Pastoreio

Efésios 4:11 é o único texto do Novo Testamento que usa o termo “pastor” (grego: poimen), no contexto da liderança da igreja. Todavia, abundam os textos que se referem à responsabilidade da liderança cristã pastorear ou apascentar a congregação. Resta então a questão: O que é, de facto, pastorear? Neste ponto, somos confrontados com duas dimensões. A primeira é sobre aquilo que a Bíblia mostra que deve ser o pastoreio. A segunda refere-se ao que vemos exercido por parte de pastores e líderes da igreja. Infelizmente, encontramos, frequentemente alguma distância entre estas duas dimensões.

Na prática, muitas vezes, deparamo-nos com modelos de pastoreio autocrático, controlador e manipulador. Abundam os exemplos de pastores que vão para além dos limites impostos pela Bíblia, imiscuindo-se em assuntos privados e íntimos que não são do seu âmbito (salvo se chamados a intervir). A forma como controlam e dominam todas as áreas da vida de igreja, algumas vezes sob o pretexto de “cuidar de todas as necessidades do rebanho”, acaba por anular as possibilidades de participação e crescimento dos membros do corpo. Sem dúvida que existem congregações que preferem assim. Preferem que alguém, a quem pagam, faça o trabalho e lhes diga o que devem ou não fazer. Por outro lado, os líderes podem alimentar essa maneira de estar, na medida em que assegura a manutenção do seu status quo. Mas, essa não é dinâmica do corpo vivo de Cristo que é a igreja.

A Bíblia não fala propriamente num dom de pastoreio. Pastorear é um ministério, para o qual concorrem vários dons, habilidades, talentos e aptidões. Isto porque, na realidade, pastorear é uma abundância de tarefas e responsabilidades. Desde o ensino, à proclamação da Palavra, passando pelo aconselhamento, pela exortação, pela administração, pela confrontação e por aí adiante, o universo de atribuições pastorais é imenso. Daí que não faça sentido afunilar todas estas responsabilidades numa só pessoa, título ou cargo. Não só porque raríssimas vezes encontraremos alguém que acumule uma tão grande quantidade de dons, mas também pela toxicidade que tal acumulação impõe sobre quem tem que desempenhar tudo isso e sobre a própria igreja.

É exatamente pela dimensão e extenso leque de tarefas e responsabilidades que assistem ao ministério pastoral que percebemos a necessidade de, em vez de um pastor, constituirmos uma equipa de pastores e pastoras que ministrem a toda a igreja. Esta dinâmica permite não só a redução do desgaste de quem lidera, como também contribui para uma melhor forma de servir várias pessoas, com necessidades diferentes, em circunstâncias diferentes e de formas diferentes. Para isto serve a diversidade de dons, talentos e aptidões de todos os que compõem a Equipa Pastoral. Pretende-se que, através da sua diversidade e variedade, Cristo ministre de forma ainda mais enriquecedora, a toda a congregação.

Resta ainda referir que, mesmo com uma equipa em que as responsabilidade são partilhadas, não lhe compete “fazer todas as coisas”, sob pena de simplesmente mudarmos de uma dominação e controlo pastoral singular para outra que é plural. O que se pretende é que a equipa seja sensível e esteja disponível para ajudar a capacitar, mobilizar e coordenar toda a igreja, “para a obra do ministério”. Ou seja, no fundo, a responsabilidade de pastoreio é da própria igreja, no seu todo, ou não fariam sentido os cerca de 30 mandamentos recíprocos (“uns aos outros”) do Novo Testamento. A Equipa Pastoral deve existir para facilitar este processo. Compete-lhe, assim, investir na condução de toda a igreja, para uma dinâmica de participação e desenvolvimento dos dons de cada um, de modo a que a igreja “efetue o seu próprio crescimento, em amor”.

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