Bispos

Na continuação do nosso estudo sobre a liderança da igreja, de acordo com o Novo Testamento, chegámos ao termo “bispo”. Esta palavra resulta de uma tradução do grego “episcopos”, para o termo latim equivalente “bispo”. Portanto, não se trata de uma transliteração, nem propriamente de uma tradução para português. No original, a palavra “episcopos” compõe-se pela preposição “epi”, que significa “sobre” e o termo “scopos”, que pode ser traduzido como “visão”. Literalmente, significa aquele que exerce supervisão. Apesar de, nas traduções portuguesas, o termo ser frequentemente traduzido como “bispo”, na maioria das traduções em Inglês esta palavra é traduzida para o termo “overseer” (supervisor ou superintendente). Este termo não implica um exercício de autoridade “sobre” quem ou o que é supervisionado, na medida em que o seu sentido tem a ver com a atenção e o cuidado dispensados, de uma forma geral e abrangente, neste caso, em relação à vida da igreja. Também considerámos o seguinte:

  • Em vez de se tratar de um título ou cargo, numa qualquer estrutura hierárquica, o termo traduz uma das que seriam as funções da liderança da igreja local, ou seja supervisionar a sua vida, dinâmica e funcionamento.
  • Como Paulo usa este termo de forma intercambiável com o termo “ancião”, é legítimo concluir que não está a referir-se a uma “posição” diferente ou a alguns líderes que coordenariam o trabalho de outros líderes, mas sim a falar dos mesmos líderes, como se vê em Tito 1:5-9.
  • Por outro lado, uma vez que, tanto Paulo como Pedro, exortam os anciãos, por vezes referidos como “bispos”, a que “pastoreiem” ou “apascentem” o rebanho, percebe-se que a função pastoral dá validade à identificação destas pessoas como pastores.
  • Em suma, os termos utilizados, no Novo Testamento, para falar dos líderes da igreja remetem para funções, responsabilidades, tarefas e atribuições, mais do que para cargos, títulos, postos ou posições.
  • No fundo o Novo Testamento mostra uma certa fluidez na forma como os líderes da igreja eram identificados e uma clara ligação entre os termos que serviam para isso e as funções que lhes estavam atribuídas. Este facto pressupõe que cada igreja teria a autonomia e a liberdade para se organizar e estruturar conforme entendesse ser a vontade de Deus, a qual era expressa nos dons e pessoas que existiam na própria igreja.

Em I Timóteo 3:1-7 encontramos alguns dos requisitos para quem aspira ou almeja servir na liderança da igreja. Da discussão sobre este texto, concluímos o seguinte:

  • Por vezes, a função de liderança é “sobre-espiritualizada”, no sentido em que se espera algum sinal sobrenatural que chame alguém para essa função, à semelhança do que acontecia no Antigo Testamento. Na realidade, o que o Novo Testamento nos mostra é que Deus trabalha no nosso “querer e efetuar”, no sentido de nos fazer desejar, ambicionar ou almejar esta responsabilidade.
  • As características de moralidade e ética que se esperam de um líder devem ser, no fundo, aquelas que devem estar presentes na vida de cada crente. A responsabilidade do líder é acrescida porque ele dispõe-se a servir de exemplo ao rebanho.
  • A utilização do masculino (“bispo”) é natural e perfeitamente expectável num contexto em que as mulheres não eram consideradas como estando ao mesmo nível dos homens, muito menos no que dizia respeito a funções de liderança. Para esta circunstância tinha grande peso, como é natural, o facto de, na sua generalidade, não saberem ler nem escrever e, consequentemente, terem limitado acesso ao conhecimento das próprias Escrituras.
  • Atendendo ao contexto cultural em que foi escrito este texto, facilmente se percebe que, quando Paulo escreve que “o bispo deve ser marido de uma mulher”, não está a prescrever a exclusividade da função para homens (casados), mas a fazer uma séria e necessária advertência relativa à monogamia e à fidelidade dentro do próprio casamento.

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