Presbíteras

A origem etimológica da palavra grega que foi transliterada como “presbítero” é: do grego presbúteros, mais velho, comparativo de présbus, velho, ancião. in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2024, https://dicionario.priberam.org/presbítero. Da continuação do nosso estudo sobre o que a Bíblia ensina sobre a liderança na igreja Cristão, considerámos os seguintes pontos:

  • Não existe qualquer critério literário, para optar por não traduzir um termo que é claramente traduzível, como acima se verifica. A sua transliteração não contribui para a clarificação do sentido original da palavra. Em vez disso, parece concorrer para a distinção e valoração artificiais do termo, de acordo com os possíveis pressupostos do tradutor.
  • Apesar de a igreja primitiva ter vários anciãos, escolhia somente alguns deles para a liderarem. Mesmo considerando que o tradutor optou por não traduzir o termo presbítero, para distinguir quando é utilizado somente em relação aos anciãos eleitos para a liderança, continuamos perante uma opção arbitrária. Assim é, em primeiro lugar porque o original não faz tal distinção e, em segundo lugar, porque essa escolha não é uniforme, entre as várias traduções e versões.
  • Do ponto de vista gramatical, importa considerar que o termo grego “presbíteros” é uma palavra que, apesar de se encontrar no masculino, é a que se usaria caso pretendêssemos fazer referência a um grupo de homens e mulheres mais velhos. Isto acontece à semelhança de outros idiomas, como quando nos referimos, por exemplo, a professores ou enfermeiros e estamos a incluir professores e professoras, bem como enfermeiros e enfermeiras, respetivamente.
  • Atendendo à forma como a mulher era desconsiderada e relegada para segundo plano, no contexto de escrita do Novo Testamento, é perfeitamente natural e compreensível que toda a linguagem usada seja no masculino. A título de exemplo, refira-se (ainda que no Antigo Testamento) a forma como as instruções sobre os profetas foram registadas, no Pentateuco, sempre no masculino, quando uma das principais figuras proféticas era Miriam, a irmã de Moisés.
  • A nossa compreensão do texto bíblico passa sempre pela investigação ao contexto de escrita do mesmo. Ou seja, tudo aquilo que é dito, por exemplo, por Paulo, em relação à mulher e ao seu papel, quer na família, quer na igreja, tem a ver, em primeiro lugar, com o contexto em que ele viveu. Paulo escreve para o contexto que vê e conhece, ainda que inspirado por Deus. Um dos exemplos mais claros disto é a forma como fala sobre a escravatura, sem a condenar. Importa identificar os “porquês” do que foi escrito, para perceber o que daí se pode extrair que seja, de facto, eterno e de aplicação universal, para além do meramente cultural ou circunstancial.
  • Em I Timóteo 5, constam quatro palavras com a mesma raiz do grego “presbítero”:
    • No vrs. 1, (presbyterōπρεσβυτέρῳ) a palavra surge no masculino singular e é traduzido como “velho, mais velho, idoso ou ancião”; na totalidade das traduções e versões consultadas, nunca consta a transliteração deste termo como “presbítero”;
    • No vrs. 2, (presbyterasπρεσβυτέρας) a palavra surge no feminino plural e é traduzido como “velha, mais velha, idosa”; na totalidade das traduções e versões consultadas, nunca consta a transliteração deste termo como “presbítera”, nem sequer a tradução por “anciã”;
    • Nos vrs. 17, (presbyteroiπρεσβύτεροι) o termo aparece no masculino plural e é normalmente traduzido como “presbíteros” ou “anciãos”;
    • Nos vrs. 19, (presbyterouπρεσβυτέρου) o termo aparece no masculino singular e é normalmente traduzido como “presbítero” ou “ancião”.
  • Poderá alegar-se que, em relação às opções acima indicadas para I Timóteo 5, o contexto ajuda a distinguir entre a generalidade dos anciãos (vrs.1 e 2) e os anciãos eleitos como líderes (vrs.17 e 19). No entanto, por um lado, se este foi o critério, verifica-se que não foi uniforme, ao longo do Novo Testamento, conforme se percebe, por exemplo, ao longo do livro de Atos. Por outro lado, a resistência em utilizar termos como “presbítera” ou “anciã”, no versículo 2, demonstra o enviesamento de quem traduziu, acabando por condicionar o próprio texto. Além disso, caso a opção tivesse sido pela simples tradução (“ancião, anciã, anciãos”), todo o texto continuaria a fazer perfeito sentido, sendo todo ele mais claro e “despido” de condicionantes artificiais.
  • Não é de excluir a possibilidade de que, quando o termo grego “presbíteros” é usado, o mesmo possa incluir tanto homens como mulheres, particularmente se considerarmos que o seu uso não redunda, necessariamente, na exclusão do género feminino.

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